Quando a Vela Contra-Ataca – Capítulo 16 – A Família do Duque é Suspeita (2)

“Está um lindo dia hoje. Não é ótimo para uma caminhada?”

A Cardeal, Aurélie Boutier, perguntou vagarosamente. Não houve resposta.

Ela não foi até a colina atrás do Palácio Romero para fazer um piquenique com seu adorável afilhado, mas não havia razão para não aproveitar depois de ir até lá.

Ela olhou para o Príncipe Imperial, que estava a protegendo enquanto andava ao seu lado.

Os dois estavam caminhando sem nenhum atendente.

Até os jardineiros estavam ausentes porque sabiam que esse era o horário habitual de caminhada do Príncipe Imperial.

“Por aqui, Vossa Eminência.”

O jovem, que finalmente falou depois de bastante tempo, a guiou até uma parte isolada da vasta colina.

Os arbustos que eram tão altos quanto a Cardeal estavam todos cuidadosamente podados aqui.

Parecia ser um ótimo lugar para esconder alguma coisa.

“Quem mais sabe que estão aqui?”

“Sua Majestade sabe. Também informei Capuson disso.”

“É incrível. Não consigo acreditar que só quatro pessoas ainda sabem sobre isso.”

“Você entenderá assim que ver, Vossa Eminência.”

Os olhos bege da Cardeal brilhavam de curiosidade por trás de seu monóculo.

Ela já era uma mulher de meia-idade, mas esta seria sua primeira vez vendo uma besta divina.

Os Cardeais do Reino Sagrado e os bispos do interior falavam sobre os que tinham visto, mas só isso.

Isso porque não haviam itens divinos para as bestas divinas vagarem e protegerem aqui no Palácio Imperial.

Havia apenas quatro itens divinos em todo o vasto território do Império.

“Madrinha-nim, por favor, afaste-se por um momento.”

Cédric pediu em voz baixa. A Cardeal deu cerca de dois passos para trás sem nenhum questionamento.

O Príncipe Imperial confirmou que os arredores estavam silenciosos antes de tirar a luva preta de sua mão esquerda.

Snap!

Ele estalou os dedos e uma chama laranja radiante apareceu na ponta de seus dedos.

Aurélie Boutier silenciosamente suspirou.

A habilidade dessa criança era extremamente bela, não importa quantas vezes ela a visse.

Ela sabia que ele não sentia o mesmo, mas acreditava que isso era uma bênção e não uma maldição.

Ela acreditou nisso por muito tempo.

Tak!

Cédric balançou o braço de uma maneira específica.

A chama, do tamanho de uma flor, espalhou-se como uma folha gigante e desceu até o chão.

Shaaaaaaaaaaaa……

A chama vermelha tocou a grama fresca da primavera e começou a brilhar dourado.

A Cardeal observou isso com interesse. Essa não era uma reação normal.

Ao invés de queimar a grama verde até que ficasse preta, o fogo estava criando fragmentos amarelos semelhantes a forsítias no ar.

As coisas que estavam adormecidas reagiram ao éter do Príncipe Imperial e flutuaram.

Squee!

“Hmm……?”

Um dos fragmentos fez um barulho que não combinava com seu majestoso título de ‘besta divina’.

A Cardeal olhou em direção ao Príncipe Imperial com confusão. Cédric silenciosamente reconheceu seu olhar.

Rawww!

“Sadie?”

O segundo fragmento também fez um barulho parecido. A Cardeal, inquieta, chamou o Príncipe Imperial por seu apelido de infância.

“Madrinha, elas não mordem.”

“Não, não é isso……”

Aurélie Boutier observou as sagradas bestas divinas descendo à sua frente com uma expressão ansiosa em seu rosto.

Os dois fragmentos pararam de brilhar antes de lentamente mudarem para parecerem com animais.

A luz desvaneceu e as aparências das figuras ficaram claras.

Screeeech!

Sob!

Suas quatro patas eram pretas, mas seus corpos eram castanho-avermelhados.

Suas caudas, que pareciam ter o comprimento perfeito para seus pequenos corpos, eram bem rechonchudas.

As pontas de seus narizes e orelhas eram brancas como se estivessem mergulhadas em açúcar de confeiteiro e seus olhos eram pretos como se dois grãos pretos estivessem colocados em seus rostos.

Elas pareciam ser extremamente fofas e macias.

“Meu Deus.”

“……”

Não era como se ela esperasse que se parecessem com dragões ou grifos, mas isso era inesperado demais.

Os dois bichos de pelúcia, não, as duas bestas divinas, pareciam felizes ao verem Cédric, mesmo que ele tivesse acordado-as do sono, e perambulavam em círculos ao redor dele.

Rapidamente, marcas de sujeira começaram a aparecer nas botas pretas e elegantes do jovem.

“Eu não sabia…… Eu não sabia que elas seriam pequenininhas tão adoráveis.”

A Cardeal se agachou para se aproximar dos animais.

Embora tivesse percorrido cada canto do Império com a Imperatriz em sua juventude, ela nunca tinha visto uma criatura dessas.

Era tão absurdo que ela caiu na gargalhada.

As criaturas que subitamente surgiram na colina atrás do Palácio Romero e surpreenderam o Príncipe Imperial, os animais que seguiam as chamas do Príncipe Imperial apesar de terem medo delas, essas bestas divinas com atributo terrestre que livremente criavam flores e vinhas como quisessem……

Ela nunca imaginou que seriam criaturinhas tão fofas.

“Você vai tentar levá-las ao Castelo do Lorde Sarnez esta noite? Foi o que Élisabeth me disse.”

A Cardeal ergueu a cabeça enquanto perguntava. Ela notou que o Príncipe Imperial parecia estar extremamente tenso.

Uma sombra escura caiu sobre o belo rosto dele.

“……Uma delas sumiu.”

“O quê?”

O rosto dela, que mal havia retornado ao semblante calmo, vacilou novamente.

A menor das três não estava em lugar nenhum.

Cédric Riester ergueu seus olhos que tremiam caoticamente e fitou o prédio à sua frente.

O Palácio Juliette parecia pacífico como sempre.

*

“Então… Diz que ela realmente quer se encontrar comigo?”

Eu perguntei para confirmar. Benjamin acenou com a cabeça.

Ele estava lendo a carta da Dama Isabelle de Sarnez que recebi enquanto comia com a Cardeal.

Fiquei tão preocupado com a carta que me escondi trancado no meu quarto, sem nem ir ouvir confissões.

“Não parece ter nada de especial no texto, Vossa Alteza. Ela perguntou como você está e disse que deseja conversar em particular com você quando estiver livre. Só isso.”

Suspirei levemente.

Foi isso o que eu li também, mas mostrei a Benjamin só para garantir, caso houvesse algum tipo de código secreto utilizado pela nobreza de Riester ou algo assim.

Fiquei com medo de que as palavras não significasse realmente o que diziam, mas felizmente esse não parecia ser o caso.

“Me pergunto por que ela quer se encontrar comigo de repente. Nenhum dos outros nobres me mandou algo assim.”

Ganael, que estava ao lado de Benjamin, balançou a cabeça com os olhos arregalados.

“Vossa Alteza, há inúmeras cartas não oficiais que foram enviadas a você. No entanto, Sua Majestade……”

“Ganael.”

Benjamin o interrompeu severamente. O jovem rapidamente percebeu seu erro e se calou.

Parece que a Imperatriz anda interceptando as cartas que tenho recebido dos nobres.

“Peço perdão, Vossa Alteza.”

“Por favor, perdoe-me, Vossa Alteza.”

“Tudo bem, não é grande coisa. Nem é tão estranho.”

Eu não era um hóspede ficando a longo prazo neste resort chamado Palácio Imperial.

Embora tivesse a sorte de poder relaxar e estudar o dia todo, eu ainda era um refém diplomático.

Era compreensível que a Imperatriz não quisesse que indivíduos de alto escalão do Império tentassem entrar em contato comigo por qualquer motivo. Eu não fiquei chateado.

Na verdade, como alguém que deseja ficar o mais longe possível do Beau Monde e da sociedade, fiquei extremamente grato à Imperatriz.

“Então como foi que a Dama Sarnez…… Ah, é mesmo, ouvi que ela entregou a mensagem através da Chefe de Gabinete.”

“O fato da carta ter sido entregue através da Chefe de Gabinete significa que Sua Majestade aprovou. É natural, já que o Duque Sarnez é um vassalo leal de Sua Majestade.”

Isso significava que a Imperatriz tinha total confiança de que ninguém da família Sarnez me mandaria uma carta suspeita.

Eu já sabia, desde bem antes de ter transmigrado para esse corpo, que a jovem dama Christelle de Sarnez e o Príncipe Imperial Cédric estariam noivos.

Lembrei claramente disso porque Eunseo costumava sempre dizer que, se fosse ela, já teria rompido o noivado faz tempo.

Até agora, nada foi anunciado oficialmente, mas tenho certeza de que as discussões a respeito do casamento estão acontecendo por trás das cenas.

O relacionamento da Imperatriz com o Duque sempre foi bom, e ela confiava muito na família, visto que estava disposta a casar seu filho com a filha dele.

“Então eu acho que posso simplesmente ignorar isso.”

Empurrei a carta para um canto da mesa.

Já que não é nada importante, não preciso ficar pensando nisso.

“Se a Dama Sarnez solicitar uma audiência comigo, Benjamin, você poderia, por favor, impedi-la, mesmo que Sua Majestade não a impeça? Gostaria que você dissesse que estou doente ou algo assim.”

“Vossa Alteza?”

“Eu não quero me envolver com uma família importante como a do Ducado de Sarnez. Só quero viver silenciosamente, assim como mencionei a você no primeiro dia.”

Sorri enquanto Benjamin abria e fechava a boca sem conseguir dizer nada, incrédulo.

Mantive a carta “Estou doente” na manga, porque ninguém acreditaria em mim se eu a usasse demais, mas pensei que seria uma boa desculpa para não me encontrar com a Dama Sarnez.

Benjamin rapidamente notou que eu havia encerrado a discussão desse assunto e encheu mais uma vez minha xícara vazia com chá de capim-limão.

“Ganael, que livro é esse?”

“Ah, eu trouxe um livro com fotos e um mapa, como você pediu, Vossa Alteza.”

O jovem sorriu brilhantemente e andou em minha direção.

Seu cabelo azul-água lembrava o céu de primavera do lado de fora da sacada.

“Parece ser bem pesado. Obrigado por trazê-lo aqui para mim.”

“Hehe, não foi nada, Vossa Alteza.”

Peguei o livro e coloquei um grande pedaço de clafoutis na mão do menino.

Depois de ver Ganael dar uma mordida, abri o livro e vi um mapa enorme na primeira página.

“É um mapa dos itens divinos no Império.”

“Sim, fiquei curioso, já que teve aquele roubo no templo da última vez.”

Rapidamente respondi à declaração cheia de curiosidade de Benjamin. Bom, eu falei meia verdade.

Eu queria saber onde ficava o Templo de Vigilância, de onde o item divino foi roubado.

Mas a razão pela qual pedi por este livro hoje foi porque eu queria ver o quão longe aquela criança, Sadie, teria que viajar com as bestas divinas.

Ele disse que estava bem, mas seria estranho não se preocupar com um menino tão novo andando sozinho tarde da noite.

“O território de Sarnez é bem perto da Capital Imperial.”

“Sim, senhor, o território de Sarnez fica bem do lado de fora da fronteira oeste da Capital Imperial. O Castelo do Lorde é um pouco mais longe, no entanto.”

Benjamin me explicou.

A Capital Imperial e o território de Sarnez eram semelhantes a Seoul e Bucheon.

Então olhei para a bela imagem acima da palavra ‘Sarnez’.

“Este deve ser o item divino que é protegido pelo Ducado de Sarnez.”

“Isso mesmo, esta é a ‘Bênção do Mar Azul’.”

“Quanto tempo levaria para chegar ao território de Sarnez a cavalo?”

“Se estiver saindo do Palácio Imperial…… Deve conseguir chegar lá em duas horas, no máximo.”

Coloquei meu dedo no mapa e tracei uma linha reta da Capital Imperial até o território de Sarnez.

A memória é mesmo uma coisa fascinante.

A única coisa que lembrei da capa de < Eu Larguei Meu Emprego e Acabei Como Uma Jovem Nobre em Outro Mundo > quando estava escrevendo tudo no meu caderno, no primeiro dia, foi a aparência dos dois personagens principais.

Não consegui me lembrar claramente das roupas ou acessórios deles. É assim mesmo, mas……

Depois de ver a joia azul bordada com fios brilhantes na página, me lembrei de algo.

O Príncipe Imperial segurava um grande colar de safira na sua mão esquerda enquanto sua mão direita estava em volta da cintura de Christelle.

Christelle também estava tentando alcançar o colar na mão dele.

Não havia dúvida.

Se a joia era importante o suficiente para aparecer na arte da capa, não é surpreendente que fosse o item divino que o Ducado estava protegendo com sua honra.

“Ficaria lindo num colar.”

Murmurei baixinho.

Scrreeeeech!

“……Foi um pássaro que fez esse barulho?”

Acrescentei sem entender nada depois de ouvir um barulho inesperado.

O barulho estranho vinha da sacada, que estava aberta para permitir a entrada de um pouco da brisa da primavera.

Pensei em todo tipo de coisa.

Me perguntei se eu acabaria vendo um daqueles insetos enormes que dizem existir nos países ocidentais, já que havia uma montanha bem atrás de nós.

“Vossa Alteza, olhe isso, por favor.”

Ganael, que foi o primeiro a ir para a sacada, me chamou em uma voz um tanto animada.

Benjamin, que estava logo atrás de Ganael, parou em choque depois de ver algo.

Eu engoli em seco e me levantei do assento.

De qualquer forma, não acho que seja algo que vá me fazer mal, visto que eles pediram para que eu me aproximasse.

“O que foi?”

Passei por Benjamin, que estava parado, rígido como uma tábua, e notei algumas vinhas subindo pela sacada.

“Ho……”

Senti como se estivesse assistindo a algum tipo de documentário sobre a natureza.

Era como se um vídeo em time-lapse de videiras crescendo estivesse diante dos meus olhos.

Pequenas folhas em formato de palmeira rapidamente também começaram a crescer.

E pouco depois disso……

Screeeeech!

O pequeno animal que subiu nas vinhas gritou valentemente como se estivesse anunciando sua chegada.

Era um panda vermelho.

‘Que novel maluca……’

<< Previous Chapter | Index | Next Chapter >>

Bookmark (0)
Please login to bookmarkClose

No account yet? Register

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *